sexta-feira, 17 de abril de 2009

A Mafalda existe, não acredita no cavalheirismo, e agradeceu (as palavras) - E por o ter feito, as consequências serão terríveis…

Tirânica condição, a da Filosofia, de se encontrar quotidianamente subjugada às nuvens e aos conjuntos opinativos sempre adornados para servir, de algum modo, uma qualquer estirpe de consolo/divertimento/piada/inutilidade. Nefelibatismos à parte, o que é a Filosofia, amigo (suminho)? é uma vontade de querer saber. Saber a sério: procurando os fundamentos. Não é uma repetição de "porquês" avulsos, como quem espirra quando está constipado, é antes uma "desbanalização do banal" (escreve assim no teste, suminho). Desbanalização do banal? Pois claro, como aquela que podemos encontrar no videozinho do youtube, se fizermos uma pesquisa por "o que é a Filosofia". Vá, pronto, está aqui (Suminhos da vida: o que interessa é a parte da Mafalda) - http://www.youtube.com/watch?v=rnTAB7YqupU

Ora, perante a fofura que, para mim, é evidente, da condição de possibilidade humana, que vem a ser o próprio humano, isto traduz implicações óbvias como a interactividade e comunhão (sim, temos que nos aturar). Já que assim se supõe que seja, então das melhores coisas que podemos receber (e dar também), será a da compreensão ao/do Outro.

Ora, a Mafalda desbanalizadora existe. Desbanaliza, pensa, interroga-se, coloca-se no lugar do Outro, e nunca se superioriza, é humilde. Isto traz a contrapartida de tornar a Mafalda rara e especial. A raridade é uma constatação de um facto (não é suminhos?); o especial já vem do que eu sinto. A Mafalda acha que o homem, por mais "decente" que possa ser, sucumbe à "beleza" da Helena Coelho promovida pelos cartazes da urbanização do “real”. Porque parece estar no sangue, na cabeça, nas hormonas... parece não poder haver "pureza na decência". Se calhar tem razão num ponto: O homem sucumbe, mas o cavalheirismo não; podem é existir gestos aparentemente cavalheiros, porque se a decência do cavalheirismo se deve à sinceridade, a sua eficácia é fidedigna e não pode ser confundida com galanteio.

É que, cara Mafalda (a que existe, em pele, ossinho, "xixinha", que sonha, projecta, cai, levanta, ri, chora, constrói, destrói.......) - a da "xixinha", portanto – O galã sedutor sucumbe às Helenas Coelh(a)s bonitas, atraentes, sexys, carnais... o cavalheiro enamorado não; O primeiro porque pensa que sabe, o segundo porque não sabe (mas sente).

Ó macho suminho, sabes porque é que as Helenas Coelhas da vida airada são as tuas mulheres de sonho? R.: O quê? Então não sei? então é a pernoca da Coelha que é boa! e aquela silhueta perfeita? e os olhos e cabelos? e a barriguinha? e as mamoquinhas esculpidas pelos deuses do Olímpo? Estás-me a dizer a mim, suminho macho, que eu não sei aquilo que gosto? R: De uma certa perspectiva, sim.

Para começar, não duvido que gostas muito do Photoshop. Depois, acho que gostas muito de imagens... muita foto, muito poster, muito papel... Depois acho que devias começar pela Helena Coelho (em pele e osso) e, finalmente, pergunto-me se ias gostar da Helena Coelho ou, pelo contrário, de uma qualquer parte ou partes dela: das mamas/pernas/rabiosque rijinho/olhinho azul/eventual parvoíce, porque, vá lá, são coisas um pouco diferentes (Helenas às postas, parceladas – parece uma descrição de Serial Killer, mas é puramente alegórico).

E o cavalheiro enamorado? Sabe? R: Não. Porquê?

Vamos a ele então, - perdoe-me o Camões - ao Amor (enamorado).

Então mas que raio de Amor é esse que se deixa explicar (em palavras)? que se percebe? que tem uma equação e um Q.I. explícitos e demonstráveis? Será a simpatia? A coxa? O olho azul? É o conjunto? Então mas é identificável? Aponta-se? Determina-se? E se ela ficar mais gorda um dia? e velha? Se ficar antipática? Morreu o Amor? Mas que maravilha! O amor matemático.

O amor de supermercado: onde há, após a ronda de vistoria rigorosa e selectiva às prateleiras, a escolha de ingredientes favoritos, junta-se água e já está! mas que poder!, eis o suprimento das nossas carências consumistas… falava-se de quê? Amor?!... Ó MEC chanfrado, aqui te invoco, porque, apesar de snob, escreveste sobre a “palmadinha nas costas” como eu gostaria de ter escrito:

"Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
(...) Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.
Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo? O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental".
Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."
Elogio ao amor (Miguel Esteves Cardoso - Expresso )
E depois da bonança, eis a tempestade (“xixinha” mode fully engaged):
MAS DESDE QUANDO É QUE SE ESCOLHE QUEM SE AMA?!
E DESDE QUANDO SE ESCOLHE SEQUER O QUE SE SENTE?!

É QUE ISTO DE SENTIR COISAS, TEM QUE SAIR CÁ PARA FORA! PORQUE CORRÓI SE SE AMORDAÇA! PORQUE SE EXISTE NUM EXISTIR PULULANTE DE QUERER! E O GRANDE MAL É QUE ESSA EXTERIORIZAÇÃO É FEITA ATRAVÉS DE MISERÁVEIS PALAVRAS!!! NÃO HÁ ESCOLHA!! QUE CONVERSÃO REDUTORAMENTE HEDIONDA DO SENTIR ENCAPSULADO E ESCRAVIZADO EM ENTRELAÇAMENTOS DE INSUFICIENTES, ESCRAVIZADORAS, INEVITÁVEIS E SUFOCANTES PALAVRAS!!!

As palavras que leste, Mafalda, não se podem nunca agradecer. Nem sequer o sentir que as originou se pode louvar, porque nem esse pude escolher. Antes pudessem os olhos e as mãos dizer por mim: Para dizê-lo à Mafalda! Não se dirige à simpatia da Mafalda, nem às ideias da Mafalda, nem à perfeição da Mafalda! Como é que se dedica uma “Íris Goo Goo Dooliana” às ideias extraordinárias da Mafalda? Como é que se expressa um “and I’d give up forever to touch you, ‘cause I knew that you feel me somehow” ao sorriso da Mafalda!? As ideias não me fascinam a esse ponto, nem nunca tive nenhuma “queda” por bibliotecas, nem mesmo aquelas mais curvilíneas e bonitas. Há somente um SENTIR, e isso é tudo o que se precisa para saber e, consequentemente, para fazer. O que leste não é um elogio com o fim de te deleitar, de te mimar, de te fazer sorrir… É O QUE EU SINTO! E ISSO, NÃO SE AGRADECE!!!

P.S.: «Olhos de Mongol é uma expressão do escritor Henry Miller, para aquela empatia que existe quando conheces uma pessoa, estás a falar com ela pela primeira vez e há uma energia no olhar, toda aquela ligação um bocado inexplicável» - Linda Martini (banda portuguesa).

P.S.2: Diz lá menino, sim, porque ainda não tens aquela “experiência de vida”, não é? O que é o Amor?

«O Amor É Não Haver Polícia». Os Linda Martini encontraram a frase num livro de redacções infantis dos anos 50. A banda revê-se na sentença de um menino (então) com 10 anos.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Eça de Queirós - A Perfeição Parte II

Um deus descera, um grande deus... Era o mensageiro dos deuses, o leve, eloquente Mercúrio. Calçado com aquelas sandálias que têm duas asas brancas, os cabelos cor de vinho cobertos pelo casco onde batem também duas claras asas, erguendo na mão o caduceu, ele fendera o éter, roçara alisura do mar sossegado, pisara a areia da ilha, onde as suas pegadas ficavam rebrilhando como palmilhas de ouro novo. Apesar de percorrer toda a Terra, com os recados inumeráveis dos deuses, o luminoso mensageiro não conhecia aquela ilha de Ogígia - e admirou, sorrindo, a beleza dos prados de violetas tão doces para o correr de brincar de ninfas, e o harmoniosofaiscar dos regatos por entre os altos e lânguidos lírios. Uma vinha, sobre esteios de jaspe, carregada de cachos maduros, conduzia, como fresco pórtico salpicado de sol, até à entrada da gruta, toda de rochas polidas, donde pendiam jasmineiros e madressilvas, envoltas no sussurrar das abelhas. E logo avistou Calipso, a deusa ditosa, sentada num trono, fiandoem roca de ouro, com fuso de ouro, a lã formosa de púrpura marinha. Um aro de esmeraldas prendia os seus cabelos muito anelados e ardentemente louros. Sob a túnica diáfana a mocidade imortal do seu corpo rebrilhava como a neve, quando a aurora a tinge de rosas nas colinas eternas povoadas de deuses. E enquanto torcia o fuso, cantava um trinado e fino canto, como trémulo fio de cristal vibrando da Terra ao Céu. Mercúrio pensou: "Linda ilha, e linda ninfa!"De um lume claro de cedro e tuia, subia, muito direito, um fumo delgado que perfumava toda a ilha. Em roda, sentadas em esteiras, sobre o chão de ágata, as ninfas, servas da deusa, dobavam as lãs, bordavam na seda as flores ligeiras, teciam as puras teias em teares de prata. Todas coraram, com o seio a arfar, sentindo a presença do deus. E sem deter o fuso faiscante, Calipso reconhecera logo o mensageiro - pois que todos osimortais sabem, uns dos outros, os nomes, os feitos. e os rostossoberanos, mesmo quando habitam retiros remotos que o éter e o mar separam. Mercúrio parara, risonho, na sua nudez divina, exalando o perfume do Olimpo. Então a deusa ergueu para ele, com composta serenidade, o esplendor largo dos seus olhos verdes:
- Oh! Mercúrio! porque desceste à minha ilha humilde, tu, venerável e querido, que eu nunca vi pisar a terra? Diz o que de mim esperas. Já o meu aberto coração me ordena que te contente, se o teu desejo couber dentro do meu poder e do fado... Mas entra, repousa, e que eu te sirva, como doceirmã, à mesa da hospitalidade. Tirou da cintura a roca, arredou os anéis soltos do cabelo radiante - e com as suas nacaradas mãos colocou sobre a mesa, que as ninfas acercaramdo lume aromático, o prato transbordante de ambrósia, e as infusas de cristal onde cintilava o néctar.Mercúrio murmurou: "Doce é a tua hospitalidade, ó deusa!" Pendurou o caduceu no fresco ramo de um plátano, estendeu os dedos reluzentes para a travessa de ouro, risonhamente louvou a excelência daquele néctar da ilha. E contentada a alma, encostando a cabeça ao tronco liso do plátano que se cobriu de claridade, começou, com palavras perfeitas e aladas:- Perguntaste porque descia um deus à tua morada, oh! deusa! E certamente nenhum imortal percorreria sem motivo, desde o Olimpo até Ogígia, esta deserta imensidade do mar salgado em que se não encontram cidades de homens, nem templos cercados de bosques, nem sequer um pequenino santuáriode onde suba o aroma do incenso, ou o cheiro das carnes votivas, ou o murmúrio gostoso das preces... Mas foi nosso Pai Júpiter, o tempestuoso, que me mandou neste recado. Tu recolheste, e reténs pela forçaincomensurável da tua doçura, o mais subtil e desgraçado de todos os príncipes que combateram durante dez anos a alta Tróia, e depois embarcaram nas naves fundas para voltar à terra da pátria. Muitos desses conseguiram reentrar nos seus ricos lares, carregados de fama, de despojos, e de histórias excelentes para contar. Ventos inimigos, porém, e um fado mais inexorável, arremessaram a esta tua ilha, enrolado nas sujasespumas, o facundo e astuto Ulisses... Ora o destino deste herói não é ficar na ociosidade imortal do teu leito, longe daqueles que o choram, e que carecem da sua força e manhas divinas. Por isso Júpiter, regulador da ordem, te ordena, oh deusa, que soltes o magnânimo Ulisses dos teus braços claros, e o restituas, com os presentes docemente devidos, à sua Ítaca amada, e à sua Penélope, que tece e desfaz a teia ardilosa, cercada dos pretendentes arrogantes, devoradores dos seus gordos bois, sorvedores dos seus frescos vinhos!A divina Calipso mordeu levemente o beiço; e sobre a sua face luminosa desceu a sombra das densas pestanas cor de jacinto. Depois, com um harmonioso suspiro, em que ondulou todo o seu peito rebrilhante:- Ah deuses grandes, deuses ditosos, como sois asperamente ciumentos das deusas, que, sem se estenderem pela espessura dos bosques ou nas pregas escuras dos montes, amam os homens eloquentes e fortes!... Este, que meinvejais, rolou às areias da minha ilha, nu, pisado, faminto, preso a uma quilha partida, perseguido por todas as iras, e todas as rajadas, e todos os raios dardejantes de que dispõe o Olimpo. Eu o recolhi, o lavei, o nutri, o amei, o guardei, para que ficasse eternamente ao abrigo das tormentas, da dor e da velhice. E agora Júpiter trovejador, ao cabo de oito anos em que a minha doce vida se enroscou em torno desta afeição comoa vide ao olmo, determina que eu me separe do companheiro que escolhera para a minha imortalidade! Realmente sois cruéis, oh deuses, que constantemente aumentais a raça turbulenta dos semideuses dormindo com as mulheres mortais! E como queres que eu mande Ulisses à sua pátria, se nãopossuo naves, nem remadores, nem piloto sabedor que o guie através das ilhas? Mas quem pode resistir a Júpiter, que ajunta as nuvens? Seja! E que o Olimpo ria, obedecido. Eu ensinarei o intrépido Ulisses a construir uma jangada segura, com que de novo fenda o dorso verde do mar...Imediatamente, o mensageiro Mercúrio se levantou do escabelo pregado com pregos de ouro, retomou o seu caduceu, e bebendo uma derradeira taça do néctar excelente da ilha, lourou a obediência da deusa:- Bem farás, oh Calipso! Assim evitas a cólera do Pai trovejante. Quem lhe resistirá? A sua omnisciência dirige a sua omnipotência. E ele sustenta, como ceptro, uma árvore que tem por flor a ordem... as suas decisões, clementes ou cruéis, resultam sempre em harmonia. Por isso o seu braço se torna terrífico aos peitos rebeldes. Pela sua pronta submissão serás filha estimada, e gozarás uma imortalidade repassada de sossego, sem intrigas e sem surpresas...Já as asas impacientes das suas sandálias palpitavam, e o seu corpo, com sublime graça, se balançava por sobre as relvas e flores que alcatifavam a entrada da gruta.- De resto - acrescentou - a tua ilha, oh deusa, fica no caminho das naves ousadas que cortam as ondas. Em breve talvez outro herói robusto, tendo ofendido os imortais, aportará à tua doce praia, abraçado a uma quilha...Acende um facho claro, de noite, nas rochas altas!E, rindo, o mensageiro divino serenamente se elevou, riscando no éter um sulco de elegante fulgor que as ninfas, esquecida a tarefa, seguiam, co m os frescos lábios entreabertos e o seio levantado, no desejo daquele imortal formoso.Então Calipso, pensativa, lançando sobre os seus cabelos anelados um véu da cor do açafrão, caminhou para a orla do mar, através dos prados, numa pressa que lhe enrodilhava a túnica, à maneira de uma espuma leve, em torno das pernas redondas e róseas. Tão levemente pisou a areia que o magnânimo Ulisses não a sentiu deslizar, perdido na contemplação das águas lustrosas, com a negra barba entre as mãos, aliviando em gemidos o peso doseu cão. A deusa sorriu, com fugitiva e soberana amargura. Depois, pousando no vasto ombro heróis os seus dedos tão claros como os de Eos, mãe do dia:- Não te lamentes mais, desgraçado, nem te consumas, olhando o mar! Os deuses, que me são superiores pela inteligência e pela vontade, determinam que tu partas, afrontes a inconstância dos ventos, e calques de novo a terra da pátria...Bruscamente, como o condor fendendo sobre a presa, o divino Ulisses, com a face assombrada, saltou da rocha musgosa:- Oh deusa, tu dizes!...Ela continuou sossegadamente, com os formosos braços pendidos,enrodilhados no véu cor de açafrão, enquanto a vaga rolava, mais doce e cantante, no amoroso respeito da sua presença divina.- Bem sabes que não tenho naves de alta proa, nem remadores de rijo peito, nem piloto amigo das estrelas, que me conduzam... Mas certamente te confiarei o machado de bronze que foi meu pai, para tu abateres as árvores que eu te marcar, e construíres uma jangada em que embarques... Depois eua provirei de odres de vinho, de comidas perfeitas, e a impelirei com um sopro amigo para o mar indomado...O cauteloso Ulisses recuara lentamente, cravando na deusa um duro olhar que a desconfiança enegrecia. E erguendo a mão, que tremia toda, com a ansiedade do seu coração:- Oh deusa, tu abrigas um pensamento terrível, pois que assim me convidas a afrontar numa jangada as ondas difíceis, onde mal se mantêm fundas naves! Não, deusa perigosa, não! Eu combati na grande guerra onde os deuses também combateram, e conheço a malícia infinita que contém o coração dos imortais! Se resisti às sereias irresistíveis, e me safei com sublimes manobras de entre Cila e Caríbdis, e venci Polifemo com um ardil que eternamente me tornará ilustre entre os homens, não foi decerto, oh deusa, para que, agora na ilha de Ogígia, como passarinho de pouca penugem, no seu primeiro voo do ninho, caia em armadilha ligeira arranjada com dizeres de mel! Não, deusa, não! Só embarcarei na tua extraordináriajangada se tu jurares, pelo juramento terrífico dos deuses, que não preparas, com esses quietos olhos, a minha perda irreparável!Assim bradava, à beira das ondas, com o peito a arfar, Ulisses, o herói prudente... Então a deusa clemente riu, com um cantado e refulgente riso. E caminhando para o herói, correndo os dedos celestes pelos seus espessos cabelos mais negros que o pez:- Oh maravilhoso Ulisses - disse -, tu és, bem na verdade, o mais refalsado e manhoso dos homens, pois que nem concebes que exista espírito sem manha e sem falsidade! Meu pai ilustre não me gerou com um coração de ferro! Apesar de imortal, compreendo as desventuras mortais. Só te aconselhei o que eu, deusa, empreenderia, se o fado me obrigasse a sair deOgígia através do mar incerto!...O divino Ulisses retirou lenta e sombriamente a cabeça da rosada carícia dos dedos divinos: - Mas jura... Oh deusa, jura, para que ao meu peito desça, como onda de leite, a saborosa confiança!Ela ergueu o claro braço ao azul onde os deuses moram:- Por Gaia e pelo Céu superior, e pelas águas subterrâneas do Estígio, que é a maior invocação que podem lançar os imortais, juro, oh homem, príncipe dos homens, que não preparo tua perda nem misérias maiores...O valente Ulisses respirou largamente. E arregaçando logo as mangas da túnica, esfregando as palmas das mãos robustas.- Onde está o machado de teu pai magnífico? Mostra as árvores, oh deusa!... O dia baixa e o trabalho é longo!- Sossega, oh homem sôfrego de males humanos! Os deuses superiores em sapiência já determinaram o teu destino... Recolhe comigo à doce gruta, a reforçar a tua força... Quando Éos vermelha aparecer, amanhã, eu te conduzirei à floresta.

domingo, 5 de abril de 2009

Gratuit - sur le sens d'une vie.

Pas d’internet. Pas de Skype. Pas de possibilité d’appeler. Pas de téléphone. Aucune communication. Pas des temps, pas de disponibilité. Pas de possibilité. Pas des moyennes. Pas des ressources, pas de trop de volonté.
Désolé. La vie ici n’est pas facile, il faut toujours géré millions de choses. Le temps… le temps… toujours le temps. Il est le responsable. Si… j’aurai du temps, si j’aurai l’argent. Si la vie étais une autre, si j’aurai gagné l’loto, si… si… si….

Mais la VIE celle-ci, celle-ci devant toi, elle est la, pulsant ! Toujours… Mais le TEMP celui la que tu vois très courts, il n’arrête pas, et malgré tous, il est toujours le même. Il est toujours un, il sera tout le temps : le temps qui passe, et pas plus que ça.

Le sens de la vie, mon dit les livres et les dialogues, et la pensé (qui pour beaucoup des gens c’est inutile et dans le nuages), philosophique, c’est pas une chose à chercher dans l’objet.

Et le drôle c’est que, quand on ce demande :


Où elle se trouve - alors ?

On a à répondre :
Ça n’est pas important du tout. :)


Comment on la sent ?

On a à répondre :
Ça n’est pas important non plus, sauf si tu veux faire des écris érudites sur ça.


Quelle est le sens de la vie ?
On a à répondre :
La tu me demande an objet mais, le sens de la vie n’est pas dans une objet.



Mais alors quelle question if faut poser ?
On a à répondre :
Aucune. :) Parce que la VIE, celle-ci, dedans toi, elle est la, pulsant !