Farto das confusões entre inteligência, burrice e ignorância.
CONFUSÕES SOBRE INTELIGÊNCIA:
1) TER MUITA CULTURA, BAGAGEM, CONHECIMENTOS E VERBORREIA NÃO É INTELIGÊNCIA. É OU CULTURA (COLECÇÕES ADENSADAS DE FACTOS), OU MANIA (SOFISTAS).
1.1) NESTE SENTIDO, SER INTELIGENTE NÃO É SABER RESPONDER ÀS PERGUNTAS DO MALATO NA RTP NEM DO BUZZ NA PLAYSTATION (E AFINS), NEM SABER TODAS AS PALAVRAS DO DICIONÁRIO, NEM TODAS AS MÚSICAS, LIVROS, PAÍSES, ANIMAIS...
1.2) OLHA AQUELE MENINO SÓ TEM 7 ANOS E É UM ESPECIALISTA EM DINOSSAUROS, SABE TUDO, DESDE A ALIMENTAÇÃO AOS HÁBITOS ALIMENTARES, ÀS CARTILAGENS E OSSOS... AI TÃO INTELIGENTE...
NNNNNNNNNAAAOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! TEM O SEU MÉRITO!!! TEM A SUA APETÊNCIA!!!! TEVE O FRUTO DO SEU EMPENHO E DO SEU TRABALHO!!!!!!!!! PODE ATÉ TER UMA FACILIDADE DE APRENDIZAGEM FORA DO COMUM, NO SENTIDO EM QUE ABSORVE MUI RAPIDAMENTE CONHECIMENTOS!!!!!!!!!!!!!!!!! SIM, É LOUVÁVEL!!!!!!!!!!!!!! MAS ISSO NÃO CHEGA, NÃO PARA SER INTELIGENTE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! NÃAAAAAAAAOOOOOOOOOOO!!!!!!!!!!!!! CHEGA DE EUSEBIOZINHOS D'OS MAIAS!!!!!!!!!!!!!!!!!!! CHEGA DE MENINOS PRODÍGIO QUE SABIAM CITAR TODOS OS POEMAS CLÁSSICOS DE COR MUI PRECOCEMENTE!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! CHEGA DE CITADORES, BALBUCIADORES, PAPAGUEADORES, COPY-PASTADORES!!!!!!!!!!!!!
1.3) "TIVE 19, LOGO, SOU INTELIGENTE". EPÁ MORRE MEU.
SOBRE SER BURRO:
SER BURRO É:
1) NÃO QUERER APRENDER NADA POR LIVRE INICIATIVA.
2) NÃO SE ESTIMULAR POR ESCLARECER AS SUAS DÚVIDAS SEJAM ELAS QUAIS FOREM.
3) É UMA NEGLIGÊNCIA. É NÃO QUERER SABER NADA. É PENSAR QUE TUDO O QUE OUVE É VERDADE.
4) É NÃO QUERER DESCOBRIR PORQUÊ. É NÃO SABER QUESTIONAR O QUE QUER QUE SEJA. É NÃO PENSAR POR SI MESMO.
SER IGNORANTE É:
1) DESCONHECER MUITAS COISAS SOBRE MUITAS COISAS. É UM ESTADO DE DESCONHECIMENTO RELATIVO A ALGO. NÃO É UMA COISA PERMANENTE, NEM UMA DOENÇA.
1.2) O INTELIGENTE COM CULTURA PERCEBE QUE QUANTO MAIS ALARGA OS HORIZONTES DO SEU CONHECIMENTO MAIS CONSCIÊNCIA TEM DA ÍNFIMA E PARCELAR FATIA DA SUA CULTURA.
1.3) O BURRO CULTO, À MEDIDA QUE ANGARIA FACTOS, ACHA-SE CADA VEZ MAIS DIGNIFICADO NA DISTÂNCIA DE UM PÓDIUM QUE O ELEGE E DISTINGUE ACIMA DOS HOMENS COMUNS, CONVENCENDO-SE DA SUA SUPERIORIDADE (SEJA ELA QUAL FOR) RELTIVAMENTE A TODOS OS OUTROS. ILHA COM ELE. (depois haverá de se explicar o que significa a ilha).
1.4) A CULTURA É "COMPATÍVEL" COM BURRICE E INTELIGÊNCIA; NÃO É PRÓPRIA, NO SENTIDO EXCLUSIVO, DE UMA OU DE OUTRA.
E SER INTELIGENTE O QUE É:
SER INTELIGENTE É O CONTRÁRIO DE BURRO. É SABER QUESTIONAR. É SABER INVESTIGAR. É TER A CAPACIDADE DE RECONHECER O SEU PERMANENTE ESTADO DE IGNORÂNCIA E PERMANENTEMENTE INVESTIGAR. É PROCURAR OS FUNDAMENTOS. É PERCEBER COMO MANIPULAR OS SEUS CONHECIMENTOS, ORDENÁ-LOS, ORGANIZÁ-LOS PARA TENTAR CHEGAR SEMPRE A UM CONHECIMENTO MAIS PROFUNDO. É RECONHECER QUE A SUA PRÓPRIA CONDIÇÃO DE POSSIBILIDADE ESTÁ NO OUTRO. É NÃO VER QUALQUER SENTIDO NA VANGLORIZAÇÃO DA SUA COLECÇÃO DE FACTOS (CULTURA) E NÃO JULGAR OS OUTROS. É SER HUMILDE. É NÃO ACHAR, NUNCA, QUE TEM A VERDADE NO BOLSO. É SE CAPAZ DE MANDAR ABAIXO O SEU EDIFÍCIO DE CRENÇAS E RECONSTRUÍ-LO SE FOR NECESSÁRIO. É SER CAPAZ NÃO SÓ DE APRENDER COMO RE-APRENDER O QUE JÁ APRENDEU. É SABER OUVIR MAIS DO QUE UM GOSTAR DE OUVIR-SE.
by Magnata
domingo, 15 de março de 2009
quinta-feira, 5 de março de 2009
What are your dreams, human?
What are your dreams, human? What do you dream about? I may also think, if you not take me wrong, why do you dream?
Human, you dream about a nice house... No, let's make it more accurate, you dream about a beautiful breathtaking house. Having the most luxurious car (I'm sure you will use the "safety argument" for having it don't you?). You dream about THAT job. That particularly outstanding job that allows you to have a wonderful (and please take it literally wonder-full) life of travels, friends, no money worries, always the last technically advanced medical treatments. Be honest, and tell me human, couldn't this be the perfect dream for your life?
You, human of “real”, that always grasps the mundane, please explain to me:
Is that the best you can do? Is that the best you can imagine? Is that the most you can dream about? Is that the highest of your desires?
Human, lost human, this time, I’m not asking you to give me a practical solution, this time, I’m not asking you to give me something that we must see with our eyes, touch with our hands, or buy it with money. I asked, what were your dreams, but it seems that you’ve just forgot about them don’t you?
I’m obviously not like you human. Dreams have, for me, particularly properties. One of them is the fact that, even if they can’t be realized, we dream about them.
I dream about having wings and fly. Please human, take me seriously, I’m not talking about flying a plane or get myself out of one with a parachute (or without one), I’m talking about having wings and fly with them, see the most beautiful landscapes on the universe, go to the past and talk with ancient philosophers, have a castle to my princess, fight a dragon, climb a mountain and touch the gods of Olympus…
Ow... what a nonsense isn't it? ahahaha ahahahah
Human, you dream about a nice house... No, let's make it more accurate, you dream about a beautiful breathtaking house. Having the most luxurious car (I'm sure you will use the "safety argument" for having it don't you?). You dream about THAT job. That particularly outstanding job that allows you to have a wonderful (and please take it literally wonder-full) life of travels, friends, no money worries, always the last technically advanced medical treatments. Be honest, and tell me human, couldn't this be the perfect dream for your life?
You, human of “real”, that always grasps the mundane, please explain to me:
Is that the best you can do? Is that the best you can imagine? Is that the most you can dream about? Is that the highest of your desires?
Human, lost human, this time, I’m not asking you to give me a practical solution, this time, I’m not asking you to give me something that we must see with our eyes, touch with our hands, or buy it with money. I asked, what were your dreams, but it seems that you’ve just forgot about them don’t you?
I’m obviously not like you human. Dreams have, for me, particularly properties. One of them is the fact that, even if they can’t be realized, we dream about them.
I dream about having wings and fly. Please human, take me seriously, I’m not talking about flying a plane or get myself out of one with a parachute (or without one), I’m talking about having wings and fly with them, see the most beautiful landscapes on the universe, go to the past and talk with ancient philosophers, have a castle to my princess, fight a dragon, climb a mountain and touch the gods of Olympus…
Ow... what a nonsense isn't it? ahahaha ahahahah
Eça de Queiros, A Perfeição - PARTE I
Sentado numa rocha, na ilha de Ogígia, com a barba enterrada entre as mãos, donde desaparecera a aspereza calosa e tisnada das armas e dos remos, Ulisses, o mais subtil dos homens, considerava, numa escura e pesada tristeza, o mar muito azul que, mansa e harmoniosamente, rolava sobre a areia muito branca. Uma túnica bordada de flores escarlates cobria, em pregas moles, o seu corpo poderoso, que engordara. Nas correias das sandálias, que lhe calçavam os pés amaciados e perfumados de essências, reluziam esmeraldas do Egipto. E o seu bastão era um maravilhoso galho de coral, rematado em pinha de pérolas, como os que usam os deuses marinhos.
A divina ilha, com os seus rochedos de alabastro, os bosques de cedros e tuias odoríferas, as messes eternas dourando os vales, a frescura das roseiras revestindo os outeiros suaves, resplandecia, adormecida na moleza da sesta, toda envolta em mar resplandecente. Nem um sopro dos Zéfiros curiosos, que brincam e correm por sobre o arquipélago, desmanchava a serenidade do luminoso ar, mais doce que o vinho mais doce, todo repassado pelo fino aroma dos prados de violetas. No silêncio, embebido de calor afável, eram de uma harmonia mais embaladora os murmúrios de arroios e fontes, o arrulhar das pombas voando dos ciprestes aos plátanos, e o lento rolar e quebrar da onda mansa sobre a areia macia. E nesta inefável paz e beleza imortal, o
subtil Ulisses, com os olhos perdidos nas águas lustrosas, amargamente gemia, revolvendo o queixume do seu coração...
Sete anos, sete imensos anos, iam passados desde que o raio fulgente de Júpiter fendera a sua nave de alta proa vermelha, e ele, agarrado ao mastro e à carena, trambolhara na braveza mugidora das espumas sombrias, durante nove dias, durante nove noites, até que boiara em águas mais calmas, e tocara as areias daquela ilha onde Calipso, a deusa radiosa, o recolhera e o amara! E durante esses imensos anos, como se arrastara a sua vida, a sua grande e forte vida, que, depois da partida para os muros fatais de Tróia, abandonando entre lágrimas inúmeráveis a sua Penélope de olhos claros, o seu pequenino Telémaco enfaixado no colo da ama, andara sempre tão agitada por perigos, e guerras, e astúcias, e tormentas, e rumos perdidos?... Ah! ditosos os Reis mortos, com formosas feridas no branco peito, diante das portas de Tróia! Felizes os seus companheiros tragados pela onda amarga! Feliz ele se as lanças troianas o trespassassem nessa tarde de grande vento e poeira, quando, junto à Faia, defendia dos ultrajes, com a espada sonora, o corpo morto de Aquiles! Mas não! Vivera! - E agora, cada manhã, ao sair sem alegria do trabalhoso leito de Calipso, as ninfas, servas da deusa, o banhavam numa água muito pura, o perfumavam de lânguidas essências, o cobriam com uma túnica sempre nova, ora bordada a sedas finas, ora bordada de ouro pálido! No entanto, sobre a mesa lustrosa, erguida à porta da gruta, na sombra das ramadas, junto ao sussurro dormente de um arroio diamantino, os açafates e as travessas lavradas transbordavam de bolos, de frutos, de tenras carnes fumegando, de peixes cintilando como tramas de prata. A intendenta venerável gelava os vinhos doces nas crateras de bronze, coroadas de rosas. E ele, sentado num escabelo, estendia as mãos para as iguarias perfeitas, enquanto, ao lado, sobre um trono de marfim, Calipso, espargindo através da túnica nevada a claridade e o aroma do seu corpo imortal, sublimemente serena, com um sorriso taciturno, sem tocar nas comidas humanas, debicava a ambrósia, bebia goles delgados o néctar transparente e rubro. Depois, tomando aquele bastão de príncipe de povos com que Calipso o presenteara, repercorria sem curiosidade os sabidos caminhos da Ilha, tão lisos e tratados que nunca as suas sandálias reluzentes se maculavam de pó, tão penetrados pela imortalidade da deusa que jamais neles encontrara folha seca, nem flor menos fresca pendendo na haste. Sobre uma rocha se sentava então, contemplando aquele mar que também banhava Ítaca, lá tão bravio, aqui tão sereno, e pensava, e gemia, até que as águas e os caminhos se cobriam de sombra, e ele recolhia à gruta para dormir, sem desejo, com a deusa que o desejava!... E durante estes imensos anos, que destino envolvera a sua Ítaca, a áspera ilha de sombrias matas? Viviam eles ainda, os seres amados? Sobre a forte colina, dominando a enseada de Reitros e os pinheirais de Neus, ainda se erguia o seu palácio, com os belos pórticos pintados de vermelho e roxo? Ao cabo de tão lentos e vazios anos, sem novas, apagada toda a esperança como uma lâmpada, despira a sua Penélope a túnica passageira da viuvez, e passara para os braços fortes de outro esposo forte que, agora, manejava as suas lanças e vindimava as suas vinhas? E o doce filho Telémaco? Reinaria ele em Ítaca, sentado, com o branco ceptro, sobre o mármore alto da ágora? Ocioso e rondando pelos pátios, baixaria os olhos sob o império duro de um padrasto? Erraria por cidades alheias, mendigando um salário?... Ah! se a sua existência, assim para sempre arrancada da mulher, do filho, tão doces ao seu coração, andasse ao menos empregada em façanhas ilustres! Dez anos antes, também desconhecia a sorte de Ítaca, e dos seres preciosos que lá deixara em solidão e fragilidade; mas uma empresa heróica o agitava; e cada manhã a sua fama crescia, como uma árvore num promontório, que enche o céu e todos os homens contemplam. Então era a planície de Tróia - e as brancas tendas dos Gregos ao longo do mar sonoro! Sem cessar, meditava as astúcias de guerra; com soberba facúndia discursava na Assembleia dos Reis; rijamente jungia os cavalos empinados ao timão dos carros; de lança alta corria, entre a grita e a pressa, contra os Troianos de altos elmos, que surdiam, em roldão ressoante, das Portas Skaias!... Oh! E quando ele, príncipe de povos, encolhido sob farrapos de mendigo, com os braços maculados de chagas postiças, coxeando e gemendo, penetrara nos muros da orgulhosa Tróia, pelo lado da Faia, para de noite, com incomparável ardil e bravura, roubar o palácio tutelar da cidade! E quando, dentro do ventre do cavalo de Pau, na escuridão, no aperto de todos aqueles guerreiros hirtos e cobertos de ferro, acalmava a impaciência dos que sufocavam, e tapavacom a mão a boca de Anticlos bravejando furioso, ao escutar fora na planície os ultrajes e os escárnios troianos, e a todos murmurava - Cala, cala! que a noite desce e Tróia é nossa... E depois as prodigiosas viagens! O pavoroso Polifemo, ludibriado com uma astúcia que para sempre maravilhará as gerações! As manobras sublimes entre Cila e Caríbdis! As sereias, vogando e cantando em torno do mastro, de onde ele, amarrado, as rechaçava com o mudo dardejar dos olhos mais agudos que dardos! A descida aos Infernos, jamais concedida a um mortal!... E agora homem de tão rutilantes feitos jazia numa ilha mole, eternamente preso, sem amor, pelo amor de uma deusa! Como poderia ele fugir, rodeado de mar indomável, sem nave, nem companheiros para mover os remos longos? Os deuses ditosos certamente esqueciam quem tanto por eles combatera e sempre piedosamente lhes votara as reses devidas, mesmo através do fragor e fumaraça das cidadelas derrubadas, mesmo quando a sua proa encalhava em terra agreste!... E ao herói, que recebera dos reis da Grécia as armas de Aquiles, cabia por destino amargo engordar na ociosidade de uma ilha mais lânguida que uma
cesta de rosas, e estender as mãos amolecidas para as iguarias abundantes, e, quando águas e caminhos se cobriam de sombra, dormir sem desejo com uma deusa que, sem cessar, o desejava. Assim gemia o magnânimo Ulisses, à beira do mar lustroso... E eis que, de repente, um sulco de desusado brilho, mais rutilantemente branco que o de uma estrela caindo, riscou a rutilância do céu, desde as alturas até à cheirosa mata de tuias e cedros, que assombrava um golfo sereno, a oriente da ilha. Com alvoroço bateu o coração do herói. Rasto tão refulgente, na refulgência do dia, só um deus o podia traçar através do largo Urano. Um deus, pois, descera à ilha?
A divina ilha, com os seus rochedos de alabastro, os bosques de cedros e tuias odoríferas, as messes eternas dourando os vales, a frescura das roseiras revestindo os outeiros suaves, resplandecia, adormecida na moleza da sesta, toda envolta em mar resplandecente. Nem um sopro dos Zéfiros curiosos, que brincam e correm por sobre o arquipélago, desmanchava a serenidade do luminoso ar, mais doce que o vinho mais doce, todo repassado pelo fino aroma dos prados de violetas. No silêncio, embebido de calor afável, eram de uma harmonia mais embaladora os murmúrios de arroios e fontes, o arrulhar das pombas voando dos ciprestes aos plátanos, e o lento rolar e quebrar da onda mansa sobre a areia macia. E nesta inefável paz e beleza imortal, o
subtil Ulisses, com os olhos perdidos nas águas lustrosas, amargamente gemia, revolvendo o queixume do seu coração...
Sete anos, sete imensos anos, iam passados desde que o raio fulgente de Júpiter fendera a sua nave de alta proa vermelha, e ele, agarrado ao mastro e à carena, trambolhara na braveza mugidora das espumas sombrias, durante nove dias, durante nove noites, até que boiara em águas mais calmas, e tocara as areias daquela ilha onde Calipso, a deusa radiosa, o recolhera e o amara! E durante esses imensos anos, como se arrastara a sua vida, a sua grande e forte vida, que, depois da partida para os muros fatais de Tróia, abandonando entre lágrimas inúmeráveis a sua Penélope de olhos claros, o seu pequenino Telémaco enfaixado no colo da ama, andara sempre tão agitada por perigos, e guerras, e astúcias, e tormentas, e rumos perdidos?... Ah! ditosos os Reis mortos, com formosas feridas no branco peito, diante das portas de Tróia! Felizes os seus companheiros tragados pela onda amarga! Feliz ele se as lanças troianas o trespassassem nessa tarde de grande vento e poeira, quando, junto à Faia, defendia dos ultrajes, com a espada sonora, o corpo morto de Aquiles! Mas não! Vivera! - E agora, cada manhã, ao sair sem alegria do trabalhoso leito de Calipso, as ninfas, servas da deusa, o banhavam numa água muito pura, o perfumavam de lânguidas essências, o cobriam com uma túnica sempre nova, ora bordada a sedas finas, ora bordada de ouro pálido! No entanto, sobre a mesa lustrosa, erguida à porta da gruta, na sombra das ramadas, junto ao sussurro dormente de um arroio diamantino, os açafates e as travessas lavradas transbordavam de bolos, de frutos, de tenras carnes fumegando, de peixes cintilando como tramas de prata. A intendenta venerável gelava os vinhos doces nas crateras de bronze, coroadas de rosas. E ele, sentado num escabelo, estendia as mãos para as iguarias perfeitas, enquanto, ao lado, sobre um trono de marfim, Calipso, espargindo através da túnica nevada a claridade e o aroma do seu corpo imortal, sublimemente serena, com um sorriso taciturno, sem tocar nas comidas humanas, debicava a ambrósia, bebia goles delgados o néctar transparente e rubro. Depois, tomando aquele bastão de príncipe de povos com que Calipso o presenteara, repercorria sem curiosidade os sabidos caminhos da Ilha, tão lisos e tratados que nunca as suas sandálias reluzentes se maculavam de pó, tão penetrados pela imortalidade da deusa que jamais neles encontrara folha seca, nem flor menos fresca pendendo na haste. Sobre uma rocha se sentava então, contemplando aquele mar que também banhava Ítaca, lá tão bravio, aqui tão sereno, e pensava, e gemia, até que as águas e os caminhos se cobriam de sombra, e ele recolhia à gruta para dormir, sem desejo, com a deusa que o desejava!... E durante estes imensos anos, que destino envolvera a sua Ítaca, a áspera ilha de sombrias matas? Viviam eles ainda, os seres amados? Sobre a forte colina, dominando a enseada de Reitros e os pinheirais de Neus, ainda se erguia o seu palácio, com os belos pórticos pintados de vermelho e roxo? Ao cabo de tão lentos e vazios anos, sem novas, apagada toda a esperança como uma lâmpada, despira a sua Penélope a túnica passageira da viuvez, e passara para os braços fortes de outro esposo forte que, agora, manejava as suas lanças e vindimava as suas vinhas? E o doce filho Telémaco? Reinaria ele em Ítaca, sentado, com o branco ceptro, sobre o mármore alto da ágora? Ocioso e rondando pelos pátios, baixaria os olhos sob o império duro de um padrasto? Erraria por cidades alheias, mendigando um salário?... Ah! se a sua existência, assim para sempre arrancada da mulher, do filho, tão doces ao seu coração, andasse ao menos empregada em façanhas ilustres! Dez anos antes, também desconhecia a sorte de Ítaca, e dos seres preciosos que lá deixara em solidão e fragilidade; mas uma empresa heróica o agitava; e cada manhã a sua fama crescia, como uma árvore num promontório, que enche o céu e todos os homens contemplam. Então era a planície de Tróia - e as brancas tendas dos Gregos ao longo do mar sonoro! Sem cessar, meditava as astúcias de guerra; com soberba facúndia discursava na Assembleia dos Reis; rijamente jungia os cavalos empinados ao timão dos carros; de lança alta corria, entre a grita e a pressa, contra os Troianos de altos elmos, que surdiam, em roldão ressoante, das Portas Skaias!... Oh! E quando ele, príncipe de povos, encolhido sob farrapos de mendigo, com os braços maculados de chagas postiças, coxeando e gemendo, penetrara nos muros da orgulhosa Tróia, pelo lado da Faia, para de noite, com incomparável ardil e bravura, roubar o palácio tutelar da cidade! E quando, dentro do ventre do cavalo de Pau, na escuridão, no aperto de todos aqueles guerreiros hirtos e cobertos de ferro, acalmava a impaciência dos que sufocavam, e tapavacom a mão a boca de Anticlos bravejando furioso, ao escutar fora na planície os ultrajes e os escárnios troianos, e a todos murmurava - Cala, cala! que a noite desce e Tróia é nossa... E depois as prodigiosas viagens! O pavoroso Polifemo, ludibriado com uma astúcia que para sempre maravilhará as gerações! As manobras sublimes entre Cila e Caríbdis! As sereias, vogando e cantando em torno do mastro, de onde ele, amarrado, as rechaçava com o mudo dardejar dos olhos mais agudos que dardos! A descida aos Infernos, jamais concedida a um mortal!... E agora homem de tão rutilantes feitos jazia numa ilha mole, eternamente preso, sem amor, pelo amor de uma deusa! Como poderia ele fugir, rodeado de mar indomável, sem nave, nem companheiros para mover os remos longos? Os deuses ditosos certamente esqueciam quem tanto por eles combatera e sempre piedosamente lhes votara as reses devidas, mesmo através do fragor e fumaraça das cidadelas derrubadas, mesmo quando a sua proa encalhava em terra agreste!... E ao herói, que recebera dos reis da Grécia as armas de Aquiles, cabia por destino amargo engordar na ociosidade de uma ilha mais lânguida que uma
cesta de rosas, e estender as mãos amolecidas para as iguarias abundantes, e, quando águas e caminhos se cobriam de sombra, dormir sem desejo com uma deusa que, sem cessar, o desejava. Assim gemia o magnânimo Ulisses, à beira do mar lustroso... E eis que, de repente, um sulco de desusado brilho, mais rutilantemente branco que o de uma estrela caindo, riscou a rutilância do céu, desde as alturas até à cheirosa mata de tuias e cedros, que assombrava um golfo sereno, a oriente da ilha. Com alvoroço bateu o coração do herói. Rasto tão refulgente, na refulgência do dia, só um deus o podia traçar através do largo Urano. Um deus, pois, descera à ilha?
segunda-feira, 2 de março de 2009
sketch 1 - Get over it!
Claro. É já! Onde é que eu tenho de carregar? Hm?
Botão A - Amar outra pessoa.
Botão B - Deixar de amar.
Botão C - Esquecer pessoa amada.
Get over it pá! Ouve lá pá, já estás assim há vários anos e sinceramente, por todos os indicadores tele-novelenses, isso já devia ter passado. Nos morangos ninguém fica assim tanto tempo, não vês que depois farta?! Fica sem graça! Get over it meu! Parte para a outra. E olha, vai ser feliz!
Sim, vai ser feliz, como quem diz: "Vai comer uma queijada!"
Vendedor- Bom dia.
Parvo- Bom dia.
V- Diga por favor.
P- Olhe... não sei. quero uma sandes de fiambre para levar, com manteiga.
V- Sim senhor, é só?
P- Não olhe, também pode ser uma garrafinha de água fresca.
V- Ora aqui está a garrafinha fresquinha e que mais vai desejar amigo?
P- Um Snickers e uma felicidade para comer já.
P-e... olhe... já agora, um desses autocolantes que se mete no braço.
V- estes para se deixar de fumar?
P- não não. Esses aí ao lado que dizem, "get over it".
Botão A - Amar outra pessoa.
Botão B - Deixar de amar.
Botão C - Esquecer pessoa amada.
Get over it pá! Ouve lá pá, já estás assim há vários anos e sinceramente, por todos os indicadores tele-novelenses, isso já devia ter passado. Nos morangos ninguém fica assim tanto tempo, não vês que depois farta?! Fica sem graça! Get over it meu! Parte para a outra. E olha, vai ser feliz!
Sim, vai ser feliz, como quem diz: "Vai comer uma queijada!"
Vendedor- Bom dia.
Parvo- Bom dia.
V- Diga por favor.
P- Olhe... não sei. quero uma sandes de fiambre para levar, com manteiga.
V- Sim senhor, é só?
P- Não olhe, também pode ser uma garrafinha de água fresca.
V- Ora aqui está a garrafinha fresquinha e que mais vai desejar amigo?
P- Um Snickers e uma felicidade para comer já.
P-e... olhe... já agora, um desses autocolantes que se mete no braço.
V- estes para se deixar de fumar?
P- não não. Esses aí ao lado que dizem, "get over it".
domingo, 1 de março de 2009
Quanto custou o fogo? PARTE 2
Ora bem, outra vez, a vermelho é como tu pensas. Eu penso sem vermelho. Bora?
Vamos a isso amiguinho :)
Como é que se vive sem dinheiro na sociedade ocidental dita civilizada?
Se por viver entendermos: “Ter uma casa, um carro, comida abastada, etc…”:
Não me parece que se consiga, nos quadros mentais e institucionais que hoje nos circundam,
conseguir fazer tal proeza sem dinheiro. O que não quer dizer que não possa ser possível. Apenas acho complicado mesmo imaginá-lo mas, a minha, se calhar falta de capacidade para criar cenários de sucesso com estes dados, não deve ser nunca uma razão suficiente para afirmar que tal nunca vai acontecer.
Agora aqui vem a talhada: :)Para vivermos sem dinheiro será necessário uma reestruturação geral da sociedade que se concentre mais nas finalidades das suas acções do que nos meios.
O problema é que se tomam os meios pelos fins. – já não quero ser feliz. Quero ter dinheiro. Porque com dinheiro serei feliz. Tremendo erro, empiricamente demonstrável. :)
Já não quero que um veterinário cuide da pata do meu cão, quero dinheiro para ir ao veterinário (que depois cuidará do cão).
Pois, retorquem: “Como poderei eu alguma vez sequer imaginar, (ALGUMA VEZ SEQUER IMAGINAR (E AQUI É QUE ESTÁ O PROBLEMA A QUE PRESUNÇOSAMENTE CHAMAREI DE BURRICE), que se poderá fazer tal coisa sem dinheiro?
COMO PODERÃO QUERER TAL COISA?
COMO PODERÃO SONHAR TAL COISA?
COMO É QUE TAL COISA PODE SER POSSÍVEL?
Mas estás a questionar as condições de possibilidade de uma acção só porque não há dinheiro? Mas o dinheiro forma? O dinheiro educa? O dinheiro cria? O dinheiro produz?
ONDE É QUE ESTÁ ESSE GAJO (Sr./Srª Dinheiro) QUE PRODUZ, EDUCA, CRIA, DESTRÓI, CONSTRÓI, RECRIA ???
QUERO CONHECÊ-LO CARA A CARA!
Ah… não dá???? Não dá? Claro que dá, afinal o dinheiro não é um símbolo (que burro que sou – direi ironicamente).
Afinal o dinheiro, pelo que fica demonstrado por essas coisas que para aí se dizem dele e daquilo que não seremos capazes de fazer sem ele, faz crer que ele, de facto, está aí!!! Carne e osso!!! É que as coisas aparecem feitas bolas!!!
O cão ficou curado. Não porque o veterinário tinha a capacidade e o saber de ajudar, mas porque o dinheiro o fez? Oh. Não, claro que não, mas o veterinário tinha livros e foi à escola para aprender! Como o faria sem dinheiro?
Novamente, não foi o Rogério de Andrade que escreveu um livro sobre veterinária compilando tudo aquilo que sabia sobre um determinando assunto num livro. FOI O DINHEIRO QUE O FEZ? Oh, está bem, foi o R. de Andrade que o escreveu porque sabe escrever, soube falar com as pessoas certas, sabia sobre a matéria e isso possibilitou outros a aprenderem. Mas, como poderia o Rogério de Andrade ter mostrado ao mundo aquilo que escreveu sem as impressoras da HP que custam dinheiro?
AH!! Então não foi uma unidade de produção mecanizada que criou a máquina de impressão. Foi o dinheiro?
Olha amiguinho (tom irónico, porque eu acho mesmo é que devias morrer com Antrax)... CONTINUAMOS A ANDAR PARA TRÁS E VAMOS CHEGAR À BRILHANTE QUESTÃO:
Quanto custou o fogo?
Vamos a isso amiguinho :)
Como é que se vive sem dinheiro na sociedade ocidental dita civilizada?
Se por viver entendermos: “Ter uma casa, um carro, comida abastada, etc…”:
Não me parece que se consiga, nos quadros mentais e institucionais que hoje nos circundam,
conseguir fazer tal proeza sem dinheiro. O que não quer dizer que não possa ser possível. Apenas acho complicado mesmo imaginá-lo mas, a minha, se calhar falta de capacidade para criar cenários de sucesso com estes dados, não deve ser nunca uma razão suficiente para afirmar que tal nunca vai acontecer.
Agora aqui vem a talhada: :)Para vivermos sem dinheiro será necessário uma reestruturação geral da sociedade que se concentre mais nas finalidades das suas acções do que nos meios.
O problema é que se tomam os meios pelos fins. – já não quero ser feliz. Quero ter dinheiro. Porque com dinheiro serei feliz. Tremendo erro, empiricamente demonstrável. :)
Já não quero que um veterinário cuide da pata do meu cão, quero dinheiro para ir ao veterinário (que depois cuidará do cão).
Pois, retorquem: “Como poderei eu alguma vez sequer imaginar, (ALGUMA VEZ SEQUER IMAGINAR (E AQUI É QUE ESTÁ O PROBLEMA A QUE PRESUNÇOSAMENTE CHAMAREI DE BURRICE), que se poderá fazer tal coisa sem dinheiro?
COMO PODERÃO QUERER TAL COISA?
COMO PODERÃO SONHAR TAL COISA?
COMO É QUE TAL COISA PODE SER POSSÍVEL?
Mas estás a questionar as condições de possibilidade de uma acção só porque não há dinheiro? Mas o dinheiro forma? O dinheiro educa? O dinheiro cria? O dinheiro produz?
ONDE É QUE ESTÁ ESSE GAJO (Sr./Srª Dinheiro) QUE PRODUZ, EDUCA, CRIA, DESTRÓI, CONSTRÓI, RECRIA ???
QUERO CONHECÊ-LO CARA A CARA!
Ah… não dá???? Não dá? Claro que dá, afinal o dinheiro não é um símbolo (que burro que sou – direi ironicamente).
Afinal o dinheiro, pelo que fica demonstrado por essas coisas que para aí se dizem dele e daquilo que não seremos capazes de fazer sem ele, faz crer que ele, de facto, está aí!!! Carne e osso!!! É que as coisas aparecem feitas bolas!!!
O cão ficou curado. Não porque o veterinário tinha a capacidade e o saber de ajudar, mas porque o dinheiro o fez? Oh. Não, claro que não, mas o veterinário tinha livros e foi à escola para aprender! Como o faria sem dinheiro?
Novamente, não foi o Rogério de Andrade que escreveu um livro sobre veterinária compilando tudo aquilo que sabia sobre um determinando assunto num livro. FOI O DINHEIRO QUE O FEZ? Oh, está bem, foi o R. de Andrade que o escreveu porque sabe escrever, soube falar com as pessoas certas, sabia sobre a matéria e isso possibilitou outros a aprenderem. Mas, como poderia o Rogério de Andrade ter mostrado ao mundo aquilo que escreveu sem as impressoras da HP que custam dinheiro?
AH!! Então não foi uma unidade de produção mecanizada que criou a máquina de impressão. Foi o dinheiro?
Olha amiguinho (tom irónico, porque eu acho mesmo é que devias morrer com Antrax)... CONTINUAMOS A ANDAR PARA TRÁS E VAMOS CHEGAR À BRILHANTE QUESTÃO:
Quanto custou o fogo?
Quanto custou o fogo? PARTE 1
Ora bem, a vermelho é como TU pensas. Eu penso sem vermelho. Bora?
Porque é que é mau pensar-se que:
1) não se consegue viver sem dinheiro?
2) quanto mais dinheiro se ganhar melhor?
Hip 1:
Isso não é mau.
O mau é pensar-se:
1) só se consegue viver com dinheiro!
2) só com + dinheiro é que estou/sou melhor!
Porque é que é mau pensar-se que:
1) não se consegue viver sem dinheiro?
2) quanto mais dinheiro se ganhar melhor?
Hip 1:
Isso não é mau.
O mau é pensar-se:
1) só se consegue viver com dinheiro!
2) só com + dinheiro é que estou/sou melhor!
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