L'oublie de l'être.
É assim que me recordo dele. E é assim que vou pensando, de quando em vez, nestas 5 palavras que, na minha mente, vão ressoando com frequência.
Sim, Heidegger tem a sua importância mas, aqui, permitam-me, jogo o jogo de Descartes - olho uma palavra, uma capa, uma imagem, e penso - sem mais analisar, sem mais querer aprofundar o interior do livro que a contém.
Não se confunda, contudo, o resultado desde jogo com: um desprezo ignorante, preconceituoso, pouco sério ou pouco rigoroso. Não se trata de julgar, de retirar mérito, de ser impreciso ou até desrespeitoso para com o co-autor desta ordem de 5 palavras. Trata-se de pensar de novo com toda a legitimidade e honestidade, não para com o autor mas, para com o sujeito que pensa. Assim, avancemos.
Não se trata do esquecimento de um certo Ser (Deus) pois disso, nada se parece poder verdadeiramente dizer ou fundar-se sobre a menos, claro, que sejamos crentes e estejamos fundados na fé.
Mas nem todos o são e, talvez muito menos sejam aqueles que, de facto, o são, isto é, aqueles que, de facto, orientam a sua vida em torno de uma determinada ideia como seja, a ideia de Deus.
Antes, leio e penso “o esquecimento do ser” como um grito de alerta para toda a humanidade em geral.
Associo-o a um “não querer saber”. É uma associação inegável. Ser/Saber. Presunção de filósofo. Talvez. Mas, procuremos esclarecer.
Este esquecimento do ser revoltante (no espírito do mundo, bem como no espírito de quem o vê à luz da clarividência) é um esquecimento daquilo que “verdadeiramente é (mas atenção ou tempo, que não estamos apenas a falar de um é presente)”.
A dificuldade maior desta questão, prender-se-á talvez, com a razão para tal esquecimento do ser. Será um esquecimento por desleixo, desprezo, ignorância, medo? Deixemos por ora esta questão.
O ser-humano é, hoje, complexo e plural nos livros de antropologia filosófica. Em que outro lugar se pensa o ser, do ser-humano, em toda a sua potencialidade? A realização do ser deve-se, tão só, à realização da sua frustração (não completude). Esqueceu-se que o ser humano, afinal, é potencialidade mais do que mera facticidade profissional. Esqueceu-se que o ser humano deve ambicionar não apenas sentir mas SER tudo de todas as maneiras. Mas este dever ambicionar não se torna verdadeiramente ambição se, com ele, não co-existir (de forma não-latente, presente, capaz, passível) a realização mesma, daquilo que se ambiciona.
Ah... talvez também, o esquecimento do ser não se fique pelo ser que é humano. O esquecimento do ser por parte do ser humano com razão, e que transparece nas acções limitadas da sua potencialidade, quando este interage no mundo é, também, resultado do esquecimento do ser das coisas.
A primazia da funcionalidade preenche, hoje, todo o leque daquilo que é, será, foi, e poderá ser. Assim, a caneta É um instrumento de escrita. Mas nunca será/foi/é uma arma? Mas nunca será/foi/é um tubo? Mas nunca será/foi/é um foco de luz? Mas nunca será/foi/é um utensílio capilar?
“Ah sim…” - responderão - “Numa determinada circunstância, e agora que fala nisso, poderá ser sim…” e aqui, nesta pequena expressão, reside a expressividade desse esquecimento.
Sabe-se da potencialidade do ser mas, esquece-se.
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